sábado, 5 de setembro de 2015

Números de transplantes no Brasil

O transplante de um órgão é, em muitos casos, a única alternativa terapêutica em pacientes portadores de insuficiência funcional terminal de diferentes órgãos essenciais. 


Nos últimos anos observou-se no Brasil e em outros países um aumento preocupante da desproporção entre a demanda de órgãos para transplante e o número de transplantes realizados.


Há, neste sentido, uma grande mobilização das autoridades médicas brasileiras para que as discrepâncias entre demanda e oferta de órgãos sejam minimizadas, o que reduziria o tempo médio de espera em filas, e sobretudo reduziria a mortalidade enquanto se aguarda por um órgão novo.


Verifica-se que muitos dos problemas de oferta estão associados a falhas nos processos de reconhecimento da morte encefálica, de abordagem familiar e de manutenção clínica do doador falecido. 


Embora pareçam óbvias, as medidas a serem tomadas para manutenção adequada do doador falecido, não se observa em grande parte das unidades de terapia intensiva brasileiras a devida valorização do problema, fato evidenciado pela ausência quase absoluta da sistematização do atendimento ao potencial doador de múltiplos órgãos. 


Trata-se de algo que suplanta a esfera técnica, uma questão humanitária e de cidadania de todos os atores envolvidos na manutenção do potencial doador falecido, dentre os quais o médivco intensivista deve exercer um papel de liderança. 


A carência de evidências mais robustas sobre o tema ressalta a importância de orientações formais (ainda que meramente consensuais em muitos aspectos) para que se proporcione o mínimo de homogeneidade na manutenção do potencial doador falecido.


A padronização e a celeridade destes procedimentos estão claramente associadas ao aumento do número de órgãos transplantados, à diminuição de perda de doadores por colapso cardiovascular e ao aumento da sobrevida pós-transplante.


Após a realização do diagnóstico de morte encefálica e obtenção do consentimento para doação de órgãos, todos os esforços devem ser realizados para a efetivação do transplante o mais rápido possível. É comum ocorrer a perda de doadores falecidos nos momentos que antecedem a retirada dos órgãos em razão da demora na realização do diagnóstico e do atraso provocado por aspectos administrativos e assistenciais.


Em relação aos aspectos assistenciais, infelizmente poucos potenciais doadores de órgãos são manuseados de forma ótima pela equipe responsável pela manutenção do doador falecido.


É fundamental instituição rápida e agressiva das medidas de manutenção para manter as funções corporais de acordo com metas terapêuticas definidas e reverter eventuais disfunções orgânicas. 


O período de 12 a 24 horas é considerado adequado para o cumprimento dos aspectos burocráticos e reversão de disfunções orgânicas. Neste período são essenciais atitudes rápidas, agressivas e coordenadas.No Brasil temos muito a comemorar no que se refere a transplantes de órgãos. 


Temos o maior programa público de transplantes do mundo, perdemos apenas para os Estados Unidos da América em número de transplantes realizados. Mas infelizmente ainda temos muito a melhorar! Não podemos aceitar que tenhamos mortalidades elevadíssimas, em filas de espera de órgãos, enquanto o percentual de aproveitamento dos potenciais doadores está ao redor de 30%, cerca de metade do que observamos na Espanha e Estados Unidos.


Em um cenário onde o percentual de descarte de potenciais doadores e a mortalidade na fila de espera por um órgão são muito elevados, é inadmissível que simplesmente observemos tacitamente esta crítica situação. 


Não podemos continuar observando pessoas morrendo enquanto esperam por um órgão que não vai chegar a tempo, enquanto estamos jogando órgãos no lixo!

 

Pense nisso! 


( Dados disponibilizados pelo Dr. Lima, cardiologista, especialista em transplantes) 



           Entrevistado : Dr José Lima Oliveira Júnior 

           - Médico Formado na Universidade de São Paulo (USP).
           - Doutorado em Cirurgia Cardiovascular no Instituto do Coração - (InCor - HC - FMUSP).
             - Especialista em Transplante de Coração e Assistência Circulatória Mecânica pela Sociedade                       Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV).
             - Coordenador da Comissão de Remoção de Órgãos e Tecidos da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).
             - MBA em Gestão de Saúde no Insper.

 


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