sábado, 5 de setembro de 2015

Transplante Cardíaco Infantil

Todo o progresso da Medicina não diminuiu o impacto psicológico que a indicação de um transplante cardíaco infantil provoca.

O papel da família é importante em qualquer estádio da vida e se torna particularmente relevante no acompanhamento à criança, no que diz respeito ao surgimento, ao ato de lidar e nas perspectivas de um transplante cardíaco infantil. 

O sucesso de um transplante em crianças depende, em grande parte, dos pais, em especial, da mãe. A capacidade destes de se responsabilizar pelo tratamento e de lidar com o estresse psicológico e social inerentes ao transplante, em suas várias fasesé fundamental para se obter bons.

O transplante cardíaco infantil é indicado como tratamento principalmente para o estágio D de insuficiência cardíaca, que pode ser decorrente de:

 

1. Defeitos cardíacos congênitos com sobrecarga pressórica ou volumétrica com ou sem cianose.
2. Cardiomiopatias congênitas ou adquiridas por distrofias musculares, infecções, drogas, toxinas.
3. Disfunção miocárdica após correção de defeitos cardíacos. 

 

O quadro clínico varia com a idade. Os sintomas mais comuns em lactentes são taquipnéia, taquicardia e dispnéia às mamadas; em crianças maiores fadiga e intolerância ao exercício; em adolescentes são similares aos de adultos. 

O transplante cardíaco infantil tem possibilitado sobrevidaque pode chegar a 85% no 1º ano pós transplantee melhora da qualidade de vida em um grupo de crianças portadoras de cardiopatias complexas e cardiomiopatias refratárias ao tratamento clínico.

No mundo são realizados cerca de 450 transplantes cardíacos infantis por ano, o que representa por volta de 10% do total de transplantes cardíacos realizados.

Os critérios de indicação são:

1. Idade gestacional >36 semanas e peso de nascimento >2.200g.
2. Estabilidade metabólica e hemodinâmica.
3. Ausência de quadros sépticos, neurológicos, renais e anormalidades cromossômicas, bem como ausência de distúrbios psiquiátricos nos responsáveis da criança. 
4. Índice de resistência vascular pulmonar <6 unidades Woods e gradiente transpulmonar <15mmHg em repouso ou após emprego de vasodilatadores (nitroprussiato de sódio, oxigênio ou óxido nítrico).

 

Como em adultos, a principal dificuldade para realização de um transplante cardíaco infantil é a limitação do número de doadores. Para cada 1000 potenciais doadores adultos, temos cerca de 100 infantis e a atual taxa de recusa familiar está em 43%. 

 

A maior experiência brasileira é a do Instituto do Coração (InCor). 

Entre outubro de 1992 e novembro de 2013, foram realizados 135 transplantes cardíacos infantis, 70% por cardiomiopatias e 30% por cardiopatias congênitas. Destes 135 pacientes, 85  pacientes encontram-se em seguimento clínico. 

A doença vascular do enxerto com necessidade de re-transplante ocorreu em dois pacientes, sendo que um deles necessitou de transplante renal simultâneo e o outro paciente encontra-se clinicamente bem após 2 anos de retransplante.

O transplante cardíaco em crianças e adultos com cardiopatia congênita constitui-se em opção terapêutica pois possibilitando  sobrevida a longo prazo destes pacientes, com melhora substancial da qualidade de vida.


           Entrevistado : Dr José Lima Oliveira Júnior 

           - Médico Formado na Universidade de São Paulo (USP).
           - Doutorado em Cirurgia Cardiovascular no Instituto do Coração - (InCor - HC - FMUSP).
             - Especialista em Transplante de Coração e Assistência Circulatória Mecânica pela Sociedade                       Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV).
             - Coordenador da Comissão de Remoção de Órgãos e Tecidos da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).
             - MBA em Gestão de Saúde no Insper.

 

 


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