terça-feira, 28 de outubro de 2014

Corrida de rua

Não é impressão: muita gente começou a correr pelas ruas do Brasil. Só em São Paulo o número de inscritos em provas oficiais dobrou em seis anos.

Esses corredores mostram que as razões para aderir à modalidade são inúmeras e também muito particulares; em comum, o fato que qualquer um deles saberá explicar por que faz tanto sentido encarar alguns quilômetros num domingo pela manhã ou em qualquer hora da semana na qual consiga encaixar o treino em sua rotina.

Nos últimos anos, a prática cresceu muito ao deixar de ser um esporte individual para pessoas com perfil atlético e obsessão por resultados. A corrida promove hoje o encontro de quem busca uma vida mais saudável e não quer apenas competir, mas também participar e fazer um selfie na linha de chegada.

"Antes, quem não era competitivo se sentia excluído. Hoje, as pessoas correm para se divertir e não ficam tão preocupadas com desempenho ", afirma o educador físico Nelson Evêncio, presidente da ATC (Associação dos Treinadores de Corrida) de São Paulo.

Renato Dutra, diretor técnico da assessoria esportiva Run & Fun, dá um exemplo dessa transformação. Ele conta que em 1995 completou uma prova de 10 km em 35 minutos. Na ocasião, chegou em 42º lugar. "Hoje, com esse mesmo tempo, seria possível ficar entre os dez primeiros. Nem todos que correm são atletas fervorosos e isso é fantástico; você não estará sozinho se fizer 10 km em mais de uma hora. Correr ficou mais divertido", afirma.

Um monitoramento feito nos Estados Unidos endossa essa ideia. Em 1980, o tempo médio de conclusão das maratonas era de 3h32 para homens e 4h03 para mulheres. Em 2013, após o boom, os 
tempos subiram para 4h16 e 4h41, respectivamente.
Com mais praticantes e o seu lado social, a corrida começa a pedir um visual mais produzido. Isso porque os amadores não fazem como seus "antepassados", que só usavam nas pistas as roupas mais surradas. O perfil do novo corredor inclui um par bacana de tênis, roupas que não retêm suor, smartphone para ouvir músicas e relógio para controlar tempo e distância.
Com tanta gente aderindo, o fenômeno passou a apresentar um efeito colateral. "Todo mundo começou a correr; gente muito jovem, de meia idade e idosos. Com isso, aumentou o número de lesões", afirma Sérgio Costa, ortopedista especializado em traumatologia esportiva. O problema mais comum, segundo ele, é a tendinite nos membros inferiores, que geralmente aparece em sedentários que correm sem preparo.
Um estudo de 2004 do Departamento de Saúde da Universidade da Califórnia, que avalia outras 
publicações relacionadas à corrida, indica que até 70% dos corredores (amadores e profissionais) sofrem algum tipo de lesão, se considerado o período de um ano. O joelho responde por quase metade desses problemas.

Por isso, é importante começar devagar e somente depois de uma avaliação médica. Se a brincadeira for adiante, o ortopedista indica a musculação. "O peso corporal nos membros inferiores aumenta de seis a sete vezes na corrida. Uma pessoa de 80 kg terá de segurar cerca de 500 kg nas pernas. Para aguentar, os músculos e tendões precisam estar bons. Tem de haver um preparo físico", afirma.
Os especialistas afirmam que os resultados da corrida aparecem rápido; em cerca de três meses já é possível observar os benefícios. "Vai dar preguiça, vergonha e a cabeça vai tentar sabotar. Passados esses três meses, é provável que a pessoa veja os resultados e tome gosto", explica Costa. Por isso a importância de insistir. Literalmente, um passo por vez. 



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